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MUNDO BOTONISTA

Especial Dia dos Pais:

O futebol de mesa de pai para filho

Por Vinicius Ramalho (10/08/2025)

Começo esse texto já explicando a você, leitor, que falar sobre a relação de pai e filho nos primeiros dias de agosto não é das tarefas mais fáceis para esse que vos escreve. Desde 1998, o dia 4 de agosto marca a data em que meu pai foi jogar botão em outra dimensão e, na mesma semana, o Dia dos Pais é comemorado sempre no segundo domingo do oitavo mês do ano. Mas vamos lá...

Quem me conhece sabe a importância do futebol de mesa na relação com meu pai. Sabe aquele questionamento que o Fábio Porchat faz em seu programa “Que história é essa?”, de qual a primeira lembrança que você tem da vida? Eu me lembro de uma sala no extinto Volkswagen Clube, em São Bernardo do Campo. Lembro de, ao entrar e sentir aquele cheiro de cera para carros e ver peças de acrílico deslizando sobre as mesas, simulando partidas de futebol, me sentia em um parque de diversões. Era muito pequeno, tinha cinco anos, e via caras como Hélio, Chapecó, Moacir, que eram craques do tal futebol de mesa, mas que não chegavam nem perto do heroísmo do meu pai. Ele normalmente perdia para essas pessoas, mas era o cara que me levava para aquele mundo que ainda estava conhecendo.

Para não alongar, vou lembrar de outros momentos, como a primeira mesa oficial que tive em casa. Foi feita por funcionários da Volks, o alambrado tinha resto de estofados dos carros e ficou esquecida depois de ser a diversão do meu pai e de seus amigos no horário de almoço, no meio da estressante rotina de trabalho. Ele pediu autorização para levar a mesa para casa, e então começaram embates épicos reunindo ele, meu irmão, primos e amigos da rua que adoravam jogar lá no porão de casa, e eu. A maior rivalidade era entre mim e ele. Claro que o que eu mais queria era ganhar do meu herói, daquele que me apresentou o futebol de botão e o respeito do filho com o pai. Todos os nossos jogos se transformavam em final de Copa do Mundo. 

Lembra da sala do Volkswagen Clube? Lá aconteceu o maior confronto da nossa história, no dia do aniversário dele. E vou contar o que eu fiz: era um torneio interno, jogava contra ele na última rodada. Eu já estava eliminado e ele precisava da vitória para se classificar. Resultado de 4 a 4. Quando a campainha tocou, ele me abraçou, orgulhoso do jogo que eu fiz, mesmo eliminado. E eu esqueci do meu lado competitivo e me toquei do que tinha feito. Eliminei meu pai do campeonato no dia do aniversário dele. Que presente de grego! Fui do clube até minha casa chorando e, quando alguns familiares que estavam em casa nos esperando para cantar parabéns e comer um pedaço de bolo me viram inconsolável, não entenderam nada. Era só um filho de dez anos que voltou a ser criança, esqueceu o lado competitivo e estava frustrado por eliminar seu herói daquele campeonato.

Os anos se passaram, nos federamos pela primeira vez em 1994 pelo XV de Agosto de Socorro e lá realizamos o sonho de jogarmos juntos. Lembro que, quando ganhei o meu primeiro troféu, em um aberto realizado no Indiano em 1996, ele não disfarçou sua felicidade. Foi também pelo XV que jogamos juntos pela última vez, meses antes da sua partida, em um jogo contra o Santos, na Vila Belmiro.

Aqui vale lembrar que amigos do futebol de mesa foram importantíssimos para ajudar a superar a dor da partida dele. Afinal, muitos mostraram que a frase “o futebol de mesa faz amigos” não era só um jargão usado para valorizar a modalidade. Diante de tal pancada, voltar a jogar era algo distante. Como eu conseguiria voltar sem meu herói, que nos deixou com só 42 anos? Talvez o homenageando. Foi o que fiz ao lado de amigos e aqueles primos dos embates lá no porão de casa. 

Nomeamos de “Márcio Roberto Ramalho” a sala do departamento do Meninos, que ajudei a fundar, e lá construímos uma história que, com certeza, tem seu espaço em qualquer almanaque da modalidade. Fiz amigos, conquistei títulos e segui levando a bandeira do futebol de mesa, como ele me ensinou. Sem dúvida, uma das páginas da minha vida de que mais me orgulho é o Meninos Futmesa, que só nasceu pelo desejo de homenagear meu pai. Mas tinha uma coisa que sempre me angustiava: como faria para mostrar para meus filhos quem foi meu pai? Talvez levando e mostrando as coisas boas que aprendi com o avô.

O meu primogênito chegou em 26 de agosto de 2021. Lembra que eu falei do quão difícil era o oitavo mês do ano desde a partida do meu pai? Pois é, talvez o meu herói, lá de cima, tenha dado um empurrãozinho para eu ressignificar esse período do ano com o nascimento do Pedro. Desse dia em diante, o futebol de mesa e o Meninos passaram a ter outro significado. Eu sabia que não teria mais tempo para me dedicar ao departamento como fiz por mais de 20 anos, mas tudo aquilo tinha que seguir, com a ajuda dos amigos que estiveram comigo durante toda a trajetória, para eu poder um dia levar meus pequenos para aquela sala, que se não tivesse o mesmo cheiro da cera de carros que eu sentia lá nos anos 1980, teria as mesmas peças de acrílico simulando partidas de futebol.

Agora, me emociono a cada vez que o Pedro me fala: “Papai, vamos para o Meninos jogar botão”, e a cada vez que entro naquela sala, mostro para ele (e futuramente para o Lucas, que ainda é muito pequeno), a placa com o nome do avô deles na porta. Ensino as primeiras palhetadas no “Estrelão” que tenho aqui no apartamento em que moramos. Não é como aquela mesa feita com “restos” da fabricação de carros, mas já é uma das diversões preferidas dos meus pequenos.

Aprendi com o Marcião (era assim que o chamávamos) que o pai é como um bom professor, que ensina com amor e multiplica sua sabedoria ao dividi-la com os filhos. Não sei se meus pequenos terão a mesma paixão e a mesma ligação que tenho com meu pai através do futebol de botão, mas sei que levarei eles, de mãos dadas, para conhecer um pouco mais dessa nossa “loucura”. Porque o legado de um pai é um presente inestimável que o filho carregará consigo para sempre. É a marca que ele deixará no mundo, através da vida e dos valores que transmitiu ao seu filho. Meu pai me ensinou o futebol de mesa e eu ensinarei o futebol de mesa aos meus filhos.

Feliz dia aos pais botonistas e que tal uma partida com seu filho?

Vinícius Ramalho

Pai do Pedro e do Lucas, o jornalista Vinícius Ramalho é repórter, comentarista e apresentador da SPFC Play - streaming oficial do São Paulo FC. Criado em São Bernardo do Campo, esse paulista de Santo André foi um dos fundadores do departamento de futebol de mesa do Meninos FC - um dos mais importantes do Brasil - e do qual ainda é diretor. Além disso, Vinícius integra o núcleo de jornalismo do hub Mundo Botonista desde 2020.

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vinicius_ramalho@mundobotonista.com.br

(011) 99443-6333



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